RESENHA
MOITA LOPES, Luiz Paulo da, Problematização dos Construtos que têm Orientado a Pesquisa. In:Luiz Paulo da MOITA LOPES . Linguística Aplicada e a vida contemporânea. São Paulo: Parábola, 2006, p.[85 a 105]
Partindo da crítica à modernidade, bem como, à episteme ocidentalista, ou seja, o fato de ter-se a Europa como modelo de mundo moderno e produção de conhecimento que não leva em consideração a verdadeira vida social daqueles que estão à margem, Moita Lopes propõe, através de uma nova forma de conceber o conhecimento, produzido em Linguística Aplicada, não mais voltado a atender a hegemonia do mercado globalizado homogêneo e do dominante capitalismo contemporâneo, mas, sim, uma pesquisa com implicações para a vida social atual, que compreende as diversas vozes: os pobres, os grupos étnicos, os favelados, homens e mulheres em sua totalidade de pensamento e liberdade. Moita Lopes chama ainda a atenção para a questão antagônica entre desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento social, onde o fator exclusão é alarmante, pois, enquanto nos diversos setores da sociedade o avanço tecnológico é visível, poucos conseguem tocá-lo, servindo apenas como um tipo de marketing do mercado feito pela mídia. Sendo esta a grande aliciadora da sociedade para o mercado, “ainda que muitos sejam apenas consumidores imaginários” (p. 93).
Visando uma Linguística Aplicada atual e interdisciplinar com outros campos das ciências sociais e humanas, Luiz Paulo da Moita Lopes que é doutor, professor e pesquisador nessa área vem insistindo firmemente nesse propósito há mais de quinze anos, inclusive com diversas obras publicadas nacional e internacionalmente em Linguística Aplicada. Na busca de atingir tais objetivos, o autor norteou-se no texto por meio de quatro pontos principais de discurso, a saber: a imprescindibilidade de uma Linguística Aplicada híbrida ou mestiça; a Linguística Aplicada como uma área que explode a relação entre teoria e prática; um outro sujeito para Linguística Aplicada: as vozes do Sul; a Linguística Aplicada como área em que ética e poder são os novos pilares.
De acordo com estas propostas, deveria alargar-se o campo de atuação da LA, abrindo-se, desta forma, as várias ramificações das ciências sociais e humanas, a fim de construir conhecimentos válidos para a sociedade atual. Neste caso, que se pode chamar de interdisciplinaridade, essa junção contribuiria significativamente para responder aos constantes questionamentos sociais, suas mudanças e, assim, as diversas vozes à margem da sociedade. A estas últimas, chamam-se vozes do Sul e é preciso ouvi-las no momento de elaboração de uma pesquisa em LA para não distanciar, por assim dizer, a teoria da prática. Neste ponto, Moita Lopes faz uma crítica à ciência moderna, pois, para ele, qualquer pesquisador que se habilite a produzir conhecimentos necessários à vida social deve estar consciente de que faz parte dela, logo, não cabendo tanta imparcialidade quanto a que é imposta pelo método científico. Com este pensamento, o autor parece mostrar-se ansioso por um método científico que seja parcial, dedicado a atender a grupos particulares da sociedade, o que parece um querer distanciar-se da ciência e aproxima-se de uma ideologia fundamentada para alguns grupos sociais. Não é de um querer pretensioso da ciência moderna que o sujeito de sua pesquisa seja homogêneo, mas uma consequência de seus métodos, que busca a imparcialidade e abrangência de suas teorias. No caso dos estudos de LA na área de ensino/aprendizagem de línguas é certo que muitas pesquisas focalizam-se apenas na racionalidade, esquecendo-se que os sujeitos em questão, professores e alunos, são seres sociais e históricos, mas também o que deve ser posto em relevo, neste caso, é sua racionalidade, capacidade de raciocínio e atitudes em face do ensino/aprendizagem. Por fim, a ética deve ser indispensável e norteadora em todas as pesquisas, ainda mais, naquelas de ciências sociais e humanas, como é o caso da LA, onde se deve fazer como diz Lopes, “a exclusão de significados que causem sofrimento humano ou significados que façam mal aos outros” (p.103) e que para tanto se tem de ouvir as vozes daqueles que sofrem às margens da sociedade.
Tendo em vista todo ideário traçado pelo autor, a fim de tornar a Linguística Aplicada uma ciência que dialogue e sirva à sociedade contemporânea, conclui-se que essa perspectiva é emergencialmente praticável, pelo fato de estar-se em um país dinâmico em sua heterogeneidade de raças, credos, cultura e pensamento e não só pelos mais excluídos e sofridos da sociedade, como destaca Moita. E mesmo sendo uma utopia a busca por uma nova ordem social, isto é, uma reinvenção desta por meio da produção de conhecimento, há de se respeitar que o conhecimento quando produzido com ética e respeito para com aqueles para os quais se destina, pode mudar qualquer realidade.
Benildo Gomes da Silva,
Graduando em Licenciatura Letras/Inglês
Universidade Federal de Alagoas.